sábado, 9 de março de 2013

O discurso do prefeito e o machismo institucional.


O prefeito de Embu das Artes, Chico Brito, afirmou em discurso proferido na Câmara Municipal no dia 08 de março, dia Internacional de Luta das Mulheres,  que seu governo investe na saúde e na política de atendimento as mulheres.


Não podia me furtar a dialogar com o Sr. Prefeito sobre esta questão, pois sou mulher, moro em Embu das Artes há mais de trinta anos, trabalho diretamente com a população mais empobrecida do município há mais de 15 anos e sinto na pele, no trabalho e no dia a dia a falta de um governo que realmente tenha a mulher como foco de investimento.
O nosso prefeito, que é sociólogo, sabe muito bem que vivemos numa sociedade machista e sexista, numa sociedade patriarcal, onde a divisão sexual do trabalho colocou a mulher somente como a cuidadora, como a responsável pelo cuidado da família e da reprodução social. O machismo não é somente uma ideia que permeia um inconsciente coletivo: tem base material e se traduz também em machismo institucional. O machismo institucional se dá quando a estrutura de poder não leva em conta a especificidade das mulheres; quando o governo instituído não tem o olhar de que as mulheres são as que mais sofrem com a precariedade das políticas publicas, principalmente as políticas sociais e assim reforça e mantém a situação de opressão das mulheres.


A saúde no nosso município nunca foi das melhores, mas nos últimos anos só tem piorado, para homens e para mulheres, mas como na sociedade machista cabe principalmente a mulher o cuidado com a saúde da família, são as mulheres que mais sofrem com o sucateamento e precarização dos serviços de saúde. As filas dos postos de saúde e dos pronto socorros são compostas em sua maioria por mulheres, que vão em busca de atendimento para os filhos ou para si. É verdade que o acesso ao papanicolau é garantido, o que de nada adianta, pois não é garantido o acesso ao ginecologista; na maioria das vezes as mulheres tem que aguardar mais de seis meses para uma consulta ginecológica. Nos pronto socorros tanto do Centro quanto no do Vazame pediatra é artigo de luxo, tendo casos de criança serem atendidas por médico do trabalho. Quando se trata de crianças e adolescentes com deficiência, as mães se veem obrigadas a levar os filhos para atendimento em São Paulo, pois o município não tem psiquiatra infantil, caso estas mães não tenham dinheiro para se locomoverem até São Paulo são obrigadas a contarem com a solidariedade dos vizinhos, pois o município não fornece nem o transporte. Medicamentos nos postos de saúde é coisa rara; nos prontos socorros não tem nem termômetro; e se uma criança precisar ficar em observação a mãe tem que levar o leite, a fralda,o lençol, o cobertor etc. A atenção a saúde do adolescente que já era precária, pois só funcionava em alguns postos de saúde, hoje não existe mais. Isso é apenas alguns dos muitos relatos de mulheres usuárias dos serviços de saúde e de vivencia pessoal e cotidiana.


Nós sabemos, e o prefeito também sabe, que mesmo quando a mulher está inserida no mercado de trabalho, é dela a responsabilidade com o cuidado e educação dos filhos. Nosso município sempre foi carente de atendimento á infância e adolescência, mas, assim como na saúde, os últimos anos tem sido de total sucateamento e precarização dos serviços para esta faixa da população.  As creches, quando tem creche, não têm vagas; quando tem vagas é em meio período; acontece que as mulheres trabalham em período integral e a maioria trabalha fora do município, o que inviabiliza a frequência dos filhos nas creches municipais; acarretando para estas mulheres, já inseridas em postos de trabalhos mal renumerados, a despesa com creches particulares ou cuidadoras, e como ultima solução deixam as crianças menores aos cuidados dos maiores, colocando a vida dos seus filhos em risco.As poucas escolas e creches existentes estão abandonadas, falta funcionários, falta material de limpeza, falta material pedagógico, falta manutenção, falta até extintores de incêndio.

Na política de assistência social, onde o publico também é majoritariamente feminino, apesar de alguns avanços a situação não é tão diferente das outras políticas. Os Centros de Referencia de Assistência Social, que atendem no mínimo cinco mil famílias cada um, só tem carro para fazer visitas uma vez por semana; o que prejudica o acompanhamento às famílias em situação de vulnerabilidade social, quase todas chefiadas por mulheres. O programa de Segurança alimentar (sacolinha do banco de alimentos) está todo na mão das entidades; fazendo com que um programa publico sirva de barganha política e instrumento de poder sobre a população. Na maioria das vezes “estes donos da política publica” humilham e menosprezam os usuários destes serviços, quase todas mulheres. Quando se trata das crianças e adolescentes de 07 a 14 anos o que o município oferece é quase nada; e o pouco que tinha foi fechado, como a CAJU do Novo Campo Limpo e o CRCA do Jd. Laila. As mulheres saem para o trabalho deixando seus filhos entregues ao trafico, pois quando o poder publico não age, abre espaço para o poder paralelo. Não existe um único serviço de acolhimento institucional para crianças e adolescentes do município, as duas casas de acolhimento são de entidades e hoje, Embu das Artes não tem nenhuma Casa de Acolhida para adolescentes.


As mulheres vitimas de violência só contam com atendimento no Centro, as que moram do lado de cá da BR se tiverem dinheiro para pagar a condução são atendidas, caso contrario desabafam com as amigas e voltam para casa para apanhar novamente. Casa de Acolhida para mulheres vitimas de violência continua sendo utopia na nossa cidade. A coordenadoria de mulheres e questões raciais, se algum dia teve condições de trabalhar, visto que nunca teve orçamento, hoje está mais do que nunca sucateada.
















Estas são só algumas reflexões que faço acerca do discurso do prefeito. 

Senhor prefeito, investir em política para mulheres vai muito além de discursos, de exposição de fotos ou de “Dia da beleza”. Um governo que tem olhar sobre a questão feminina é um governo que constrói e mantém creches em período integral; que investe na saúde da mulher contratando ginecologistas; que investe na saúde das crianças e adolescentes; que faz da política social instrumento de luta e superação do machismo individual, coletivo e institucional. 
  
 Um governo que investe em políticas para mulheres é um governo que refuta o machismo no campo da idéias e ao mesmo tempo investe com ações praticas no cotidiano da vida das mulheres. Infelizmente o governo de Embu das Artes deixa muito a desejar em ambas facetas de combate ao machismo.