O prefeito de Embu das Artes, Chico Brito, afirmou em
discurso proferido na Câmara Municipal no dia 08 de março, dia Internacional de
Luta das Mulheres, que seu governo
investe na saúde e na política de atendimento as mulheres.
Não podia me furtar a dialogar com o Sr. Prefeito sobre esta
questão, pois sou mulher, moro em Embu das Artes há mais de trinta anos,
trabalho diretamente com a população mais empobrecida do município há mais de 15
anos e sinto na pele, no trabalho e no dia a dia a falta de um governo que
realmente tenha a mulher como foco de investimento.
O nosso prefeito, que é sociólogo, sabe muito bem que vivemos
numa sociedade machista e sexista, numa sociedade patriarcal, onde a divisão
sexual do trabalho colocou a mulher somente como a cuidadora, como a responsável
pelo cuidado da família e da reprodução social. O machismo não é somente uma ideia
que permeia um inconsciente coletivo: tem base material e se traduz também em
machismo institucional. O machismo institucional se dá quando a estrutura de
poder não leva em conta a especificidade das mulheres; quando o governo instituído
não tem o olhar de que as mulheres são as que mais sofrem com a precariedade das
políticas publicas, principalmente as políticas sociais e assim reforça e mantém a situação de opressão das mulheres.
Nós sabemos, e o prefeito também sabe, que mesmo quando a
mulher está inserida no mercado de trabalho, é dela a responsabilidade com o
cuidado e educação dos filhos. Nosso município sempre foi carente de atendimento
á infância e adolescência, mas, assim como na saúde, os últimos anos tem sido
de total sucateamento e precarização dos serviços para esta faixa da população.
As creches, quando tem creche, não têm
vagas; quando tem vagas é em meio período; acontece que as mulheres trabalham
em período integral e a maioria trabalha fora do município, o que inviabiliza a
frequência dos filhos nas creches municipais; acarretando para estas mulheres,
já inseridas em postos de trabalhos mal renumerados, a despesa com creches
particulares ou cuidadoras, e como ultima solução deixam as crianças menores
aos cuidados dos maiores, colocando a vida dos seus filhos em risco.As poucas escolas
e creches existentes estão abandonadas, falta funcionários, falta material de
limpeza, falta material pedagógico, falta manutenção, falta até extintores de incêndio.
Na política de assistência social, onde o publico também é
majoritariamente feminino, apesar de alguns avanços a situação não é tão
diferente das outras políticas. Os Centros de Referencia de Assistência Social,
que atendem no mínimo cinco mil famílias cada um, só tem carro para fazer
visitas uma vez por semana; o que prejudica o acompanhamento às famílias em
situação de vulnerabilidade social, quase todas chefiadas por mulheres. O
programa de Segurança alimentar (sacolinha do banco de alimentos) está todo na
mão das entidades; fazendo com que um programa publico sirva de barganha política
e instrumento de poder sobre a população. Na maioria das vezes “estes donos da política
publica” humilham e menosprezam os usuários destes serviços, quase todas mulheres.
Quando se trata das crianças e adolescentes de 07 a 14 anos o que o município oferece
é quase nada; e o pouco que tinha foi fechado, como a CAJU do Novo Campo Limpo
e o CRCA do Jd. Laila. As mulheres saem para o trabalho deixando seus filhos
entregues ao trafico, pois quando o poder publico não age, abre espaço para o
poder paralelo. Não existe um único serviço de acolhimento institucional para
crianças e adolescentes do município, as duas casas de acolhimento são de
entidades e hoje, Embu das Artes não tem nenhuma Casa de Acolhida para adolescentes.
As mulheres vitimas de violência só contam com atendimento no
Centro, as que moram do lado de cá da BR se tiverem dinheiro para pagar a
condução são atendidas, caso contrario desabafam com as amigas e voltam para
casa para apanhar novamente. Casa de Acolhida para mulheres vitimas de violência
continua sendo utopia na nossa cidade. A coordenadoria de mulheres e questões
raciais, se algum dia teve condições de trabalhar, visto que nunca teve
orçamento, hoje está mais do que nunca sucateada.
Estas são só algumas reflexões que faço acerca do discurso do
prefeito.
Senhor prefeito, investir em política para mulheres vai
muito além de discursos, de exposição de fotos ou de “Dia da beleza”. Um
governo que tem olhar sobre a questão feminina é um governo que constrói e mantém
creches em período integral; que investe na saúde da mulher contratando
ginecologistas; que investe na saúde das crianças e adolescentes; que faz da política
social instrumento de luta e superação do machismo individual, coletivo e institucional.